Ansiedade

Como Lidar com a Ansiedade?

Camila Bianconi
Escrito por Camila Bianconi
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Esclareça suas dúvidas sobre terapia psicológica!

Quando falamos sobre ansiedade, é fácil lembrar de situações em que tivemos contato com essa sensação. Todos nós, em algum momento, experimentamos a ansiedade em nosso corpo. A ansiedade pode ser definida como um conjunto de sensações que servem para sinalizar um perigo futuro, em potencial. É como se nosso corpo nos dissesse: “Ei! Vai acontecer alguma coisa daqui a pouco e essa coisa vai te fazer muito mal: fique esperto!” Isso quer dizer que, quando temos essas sensações que aprendemos a chamar de “ansiedade”, a situação ou evento que a provoca não está presente.

Você pode estar se perguntando: como é possível o evento que dispara minha ansiedade não estar presente quando fico ansioso (a)? Realmente, esse é um fato bastante interessante sobre a ansiedade. O que explica esse fato é que a ansiedade é uma sensação que aprendemos a sentir ao longo de nossa vida, com a função de proteção: quando vivenciamos uma situação algumas vezes, e nessa situação corremos algum perigo ou experimentamos como consequência algum prejuízo físico, emocional, financeiro ou de qualquer tipo, aprendemos que aquela situação é perigosa. A partir dessas experiências, todas as vezes que uma situação semelhante a essa estiver para acontecer novamente, nós iremos percebê-la como perigosa, e nosso corpo irá se preparar para fugir ou para enfrentar o perigo, o que chamamos de resposta de “luta e fuga”. Isso quer dizer que a situação nem precisa acontecer, nem precisa estar presente ainda para reconhecermos como perigosa.

A resposta “luta e fuga” diz respeito às reações mais comuns que podemos ter diante de um evento que cause ansiedade. O sangue se concentra em partes específicas do corpo, de modo a nos preparar para lutar ou fugir. Em função disso, podemos sentir nossa boca seca, o coração acelerado, mãos frias, suor excessivo, sensação desconfortável no estômago (“frio na barriga”), tremores, respiração ofegante ou dificuldade de respirar, urgência para micção ou evacuação, náuseas, entre outros.

Essas reações acontecem devido a um dispositivo mais “primitivo” em nosso cérebro, referente a uma época da evolução de nossa espécie em que corríamos risco de morte a todo tempo: precisávamos fugir de predadores, lutar pela sobrevivência a cada momento, em mundo muito diferente da confortável modernidade em que vivemos atualmente. Denomino “primitivo” porque é um sistema muito mais reativo do que racional, que não faz essa separação mais refinada entre o que realmente é um grande risco para nós, do qual devemos fugir, daquilo que apresenta um risco pequeno ou moderado, o qual podemos enfrentar de alguma forma. Essa parte do nosso cérebro ainda reage como se estivéssemos correndo um grande perigo diante de situações que podem ser desagradáveis, mas que não colocam nossa sobrevivência em perigo, e que podem ser resolvidas por meio de uma mudança de perspectiva ou aprendizagem de novas estratégias para lidar com o evento estressor.

Vou exemplificar essas reações de “luta” e “fuga”, comentadas anteriormente: imagine que você precisa apresentar oralmente um trabalho de escola ou faculdade, ou mesmo um relatório de trabalho diante de outras pessoas, como colegas, professores ou chefes. Você sabe que a avaliação que farão de seu desempenho nessa apresentação é muito importante (garante uma boa nota com o professor ou a possibilidade de aumento de salário, por exemplo). Esse evento é, portanto, um evento estressor, de certa forma há um perigo potencial futuro: você pode tirar uma nota baixa ou ser mal avaliado pelo seu chefe e perder boas oportunidades de trabalho.  Veja: você não corre risco de morte, mas está, de certa forma, se expondo a um risco.

Exatamente por estar se expondo a esse risco, grande parte de nós ficaria ansioso, em maior ou menor grau, e isso nos deixa mais alerta e precavido: estudamos bem sobre o assunto a ser exposto, preparamos slides que nos ajudem na nossa apresentação, ensaiamos essa apresentação previamente e pedimos opinião de colegas sobre nosso desempenho. Perceba que esse tipo de ansiedade, em menor grau, apenas nos aponta que algo importante vai acontecer e que devemos, portanto, nos preparar melhor. É possível afirmar que essa ansiedade até nos ajuda um pouquinho, sentimos as reações antes mencionadas, mas ainda assim conseguimos “vencer” mais esse desafio. Nesse caso, diante do perigo potencial, você “lutou”, enfrentou a situação e, apesar de sentir-se ansioso (a), foi capaz de fazer o que precisava ser feito.

Outras situações do cotidiano também podem ser interpretadas por esse sistema mais “primitivo” como potenciais perigos para nós: tomar a iniciativa e se aproximar de uma pessoa pela qual estamos apaixonados (risco da rejeição); dirigir (risco de sofrer acidentes de carro); viajar para um lugar desconhecido (risco de gastar muito dinheiro em um destino que não valha a pena, ou que as coisas não saiam como planejado); falar o que você pensa a respeito de um comportamento inadequado do seu amigo (risco de que ele não goste, fique agressivo e talvez não fale mais com você). Ufa! São tantas as situações que podem disparar nossa ansiedade que podemos concluir que ela faz parte da experiência humana, e que é normal senti-la de vez em quando, principalmente diante de situações novas e desconhecidas.

Provas, concursos, um encontro amoroso, uma viagem, uma festa são situações que normalmente geram ansiedade na maioria de nós e quando essa ansiedade é pontual, de grau leve a moderado, existem práticas que podem nos ajudar a acalmar e concentrar. Práticas como a meditação, Yoga, caminhadas em lugares arborizados e tranquilos, exercícios físicos, conversar com pessoas que sejam boas ouvintes ou mesmo fazer um passeio agradável podem ajudar a relaxar e distrair um pouquinho. Afinal de contas, se são situações pontuais, não se constituem um grave problema emocional, certo?

Porém, algumas pessoas podem sentir um grau de ansiedade muito intenso, que realmente as impede de fazer algumas tarefas cotidianas, elas se sentem paralisadas diante desses desafios. Não há caminhada ou meditação que seja capaz, por si só, de diminuir essa ansiedade. Nesses casos, é comum também que a ansiedade não seja um evento pontual, mas sim algo recorrente, diário. Talvez esse seja o seu caso. Pode ser que, só de ler os exemplos acima, você já tenha começado a experimentar as sensações de ansiedade em seu corpo. Para algumas pessoas, essas sensações são tão intensas que elas sentem como se seu pensamento ficasse confuso e acelerado, o que acaba por prejudicar seu desempenho. Diante de situações desse tipo, essas pessoas talvez apresentem a reação de “fuga”, evitando tais situações, o que poderia causar prejuízos emocionais, sociais, acadêmicos e profissionais.

Esses prejuízos podem ser cada vez maiores porque, uma vez que uma pessoa foge de uma situação que produz ansiedade, conseguindo “se livrar” dessa sensação, há uma tendência de que ela repita esse comportamento de se esquivar (evitar) em situações semelhantes no futuro. Assim, a pessoa passa a evitar a exposição às situações que apresentem algum risco potencial e que, por isso mesmo, geram a ansiedade, desenvolvendo um padrão de esquiva. Se levarmos em consideração que situações desconhecidas sempre geram algum grau de ansiedade, e que uma pessoa com padrão de esquivar-se dessas situações nunca ou quase nunca se expõem a elas, podemos levantar a hipótese de que pessoas muito ansiosas raramente experimentem novas situações e as sensações boas que essas situações produzem.

Bom, se esse é o seu caso, de uma ansiedade que ocorre com muita frequência e que gera tanto desconforto, tanto mal-estar, que você evita situações novas e importantes na sua vida, não conseguindo realizar tarefas no dia a dia, talvez seja interessante investigar mais demoradamente a causa dessa ansiedade. Essa investigação pode ser realizada por meio da ajuda de um psicoterapeuta, que é um profissional especializado para situações como essa. Por meio da terapia, você pode começar um processo de autoconhecimento e descobrir o que lhe causa tanta ansiedade.

É possível que, na sua história de vida, você tenha passado por situações de críticas e avaliações negativas constantes, de modo que hoje tenha uma ansiedade social que o impede de ter relacionamentos significativos e gratificantes. Ou pode ter vivido em um ambiente familiar muito instável e inconstante, gerando como consequência atual crises de ansiedade diante de possibilidade de mudanças, ou quando as coisas fogem ao seu controle, de modo que você fica paralisado (a). Esses dados da história de vida pessoal ajudam o psicoterapeuta a levantar hipóteses do que hoje sejam os gatilhos da sua ansiedade, ou seja, quais eventos causam a ansiedade e porque isso acontece. Muitas vezes, essa descoberta, por si só, tem o poder de diminuir um pouco a intensidade e frequência das crises de ansiedade.

Obviamente, descobrir os gatilhos da sua ansiedade não será suficiente, certo? Talvez sua ansiedade decorra do fato de que você não teve oportunidade ainda de aprender algumas habilidades sociais, emocionais, profissionais que o (a) deixem mais seguro diante dos desafios e tarefas que você precisa enfrentar. Nesse caso, a terapia também pode ajudá-lo (a) a descobrir esses déficits (faltas) de habilidades e como desenvolvê-los.

É importante também aprender a lidar com a sensação da ansiedade, com os sentimentos e pensamentos associados a ela. A psicoterapia não tem nenhuma técnica rápida e mágica capaz de “tirar a ansiedade de dentro de você”. Ela sempre vai estar aí, quando você se deparar com o novo, o desconhecido, aquilo que te desafia. Precisamos fazer as pazes com esse sentimento, dando a ele espaço para chegar, nos alertar do perigo e depois ir embora, seguir seu curso natural, uma vez que há outras emoções que também precisam ser sentidas. Quando aprendemos a aceitar que sentimentos que consideramos desconfortáveis, como a ansiedade, podem ser sentidos, e que isso não é um atestado de fracasso pessoal, nem de fraqueza, deixamos de lutar contra eles, liberando nosso tempo, energia emocional e criatividade para a resolução dos desafios comuns a todos nós.

Espero que este texto o tenha ajudado a esclarecer algumas dúvidas sobre o tema. Obviamente, ele não esgota todas as possibilidades de interpretação do fenômeno ansiedade, mas pode dar algumas dicas de como lidar com ela no cotidiano e, caso sua ansiedade seja intensa e frequente, procure a ajuda de um psicólogo. Você não precisa lidar com isso sozinho (a)!

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